Muitas vezes, quem perde a vida por conta do suicídio, não conseguiu enxergar outra maneira de acabar com o sofrimento. Contudo, isso acaba por gerar um novo sofrimento na vida de quem ficou. De uma hora para outra você tem que lidar com o impacto desta perda que é bastante chocante e violenta. O que fazer diante desta situação? Como lidar com o sentimento de culpa? Como encontrar respostas diante de tantas perguntas?
Sem dúvida que é um momento super delicado e queremos te ajudar. Se você chegou até aqui pode ser porque alguém querido se matou, e nós sentimos muito! Convido você a vivenciar, conversar e refletir mais profundamente sobre isso. Vamos?
Temos mais conteúdos sobre suicídio. Leia também:
1 - Tenho pensamentos suicidas - O que faço?
2 - Conheço alguém que pensa em suicídio - O que faço?
3 - Aqui você pode baixar o Plano de Segurança Contra o Suicídio!
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115 pessoas são impactadas por uma morte de suicídio, segundo a National Action Alliance for Suicide Prevention.
VOCÊ É UM SOBREVIVENTE!
O termo utilizado para se referir às pessoas que perderam alguém próximo por causa do suicídio é “sobreviventes suicidas” ou “sobreviventes enlutados”. Afinal, você e essas pessoas precisam “sobre viver”, ou seja, lidar com a dor dilacerante e inesperada, além de, ao mesmo tempo, achar forças para continuar.
Afinal, você e essas pessoas precisam “sobre viver”, ou seja, lidar com a dor dilacerante e inesperada, além de, ao mesmo tempo, achar forças para continuar
Por mais difícil que seja, os sobreviventes precisam acreditar que serão capazes de suportar e superar esta fase crítica. E é sobre isso que continuaremos conversando.
Aqui em Vivenciar.net falamos de muitos aspectos e situações enfrentadas pelas pessoas: depressão, ansiedade, raiva, luto, solidão, doenças, fobias, entre outros. Mas, acredito que o ato do suicídio seja um dos maiores exemplos de quão complexo o ser humano pode ser.
Alguns questionamentos sempre vêm à nossa mente: A pessoa estava triste? A pessoa deixou alguma nota com explicações? A pessoa deu sinais? A pessoa estava desesperada? A pessoa estava sofrendo há muito tempo? Eu não consegui perceber?
Existem diversas possibilidades de respostas, mas pela falta de explicação mais clara sobre o ocorrido e pela falta de compreensão do assunto, você tende a ficar com estas perguntas e dúvidas frequentes em seu pensamento.
VOCÊ SE SENTE CULPADO?
Uma das primeiras palavras que me vêm à mente quando penso sobre o suicídio de alguém é a culpa que isso pode gerar aos sobreviventes. E outra palavra que me vem na sequência é o acolhimento.
Cada história deve ser entendida como singular e você precisa ter um espaço em que seja acolhido, isto é, um lugar onde possa falar sobre suas dores, questionamentos, culpas, raivas, para ser ouvido sem julgamento e de maneira respeitosa.
A culpa costuma vir por meio de questionamentos: “será que eu fiz todo o possível?”, “será que não me atentei a alguns sinais?”, “se eu tivesse feito algo teria sido diferente?”, e assim por diante. Inclusive, estes questionamentos fazem parte do processo de elaboração e busca de entendimento da situação que aconteceu.
Você precisa tomar cuidado para não reduzir todo o sofrimento da pessoa e as suas escolhas a uma interpretação simplista ou mesmo como se fosse de sua inteira e exclusiva responsabilidade.
Não quero também ir para o outro lado, o da indiferença ou do “lavo as minhas mãos”; tudo nesta vida é uma questão de equilíbrio e consciência, mas comento isso especificamente aqui, neste trecho sobre a culpa, pois sei o poder de autodestruição que ela pode causar.
As pessoas buscam bastante o controle das situações e, quando se deparam com uma circunstância em que não podem fazer mais nada, tendem a perder o rumo da vida. A revolta por encarar uma situação diferente da que você está vivendo pode te consumir. Não há problema nenhum em se indignar ou sentir raiva. Porém, você pode evitar que estes sentimentos te engulam, ou evitar as ações que tomará por conta deles.
Minha querida professora Karina Fukumitsu, em seu livro “Sobreviventes enlutados por suicídio”, nos fala da importância do trabalho feito com os que perderam alguém próximo: “acolhimento ao processo de luto, reequilíbrio do sistema familiar, escolar ou institucional e redução de comportamentos autodestrutivos e de risco de novos suicídios”.
Ou seja, é extremamente importante você abrir as portas dos sentimentos, sejam eles os mais desagradáveis possíveis. Também é fundamental você entender que estes sentimentos precisam ocupar uma hospedagem momentânea, com o objetivo de serem superados e – em seguida – irem embora, e não se tornarem hóspedes permanentes que sugam todas as suas energias. Veja nossa página Posso Superar uma Perda? para compreender melhor esse processo.
VOCÊ ACHA QUE É POSSÍVEL COMPREENDER?
Cada ser humano é único. E o que quero dizer com isso? Você é único, eu sou único, e cada um de nós viverá situações e experiências únicas, e apenas nós mesmos saberemos o tamanho das nossas dores e das nossas alegrias.
Vivemos em uma cultura com hábitos parecidos e experimentamos situações que a maioria das pessoas também experimenta. Contudo, cada um enxergará e será afetado por aquele momento de um jeito particular.
Alguns sobreviventes tentam refazer os últimos dias e momentos da pessoa que partiu. Outros tentam decifrar um bilhete ou carta que às vezes é deixado. Outros lidam de uma maneira mais racional por saberem que não darão conta do emocional que os pode consumir. Você está lidando como? O fato de procurar ajudar e ter chegado até aqui, é um bom sinal.
Existe certo ou errado nesta situação de tentar entender e seguir em frente? A meu ver, não, desde que as atitudes não coloquem em risco a sua vida ou de alguma pessoa próxima neste processo.
O suicídio deixa muitas perguntas abertas e a maioria delas é enterrada junto com quem nos deixou. A busca por tentar responder estas questões é uma tentativa desesperada de dar sentido à situação, livrar da culpa, ter um fechamento e conseguir dar o próximo passo. E, lidar com as não-respostas torna o processo de luto extremamente difícil, não é mesmo?
Temos, sim, que enxergar as dificuldades da vida, as dores, o nosso corpo e mente pedindo ajuda e tudo mais que abordamos aqui nas páginas do Vivenciar.net. Todavia, não podemos nos entregar completamente para eles.
Sobreviver a uma pessoa próxima que partiu por conta do suicídio é como enfrentar um tsunami, que vem e devasta tudo o que encontra pela frente. Só que, assim como vemos a destruição causada, vemos a reconstrução também. Ou seja, é um momento de dor inimaginável, mas não deixa de ser um período que você poderá superar.
5 DICAS PARA VOCÊ COMEÇAR A LIDAR COM ESSA PERDA:
Nenhum suicídio é hereditário. Precisamos compreender que os sintomas que desencadearam o ato e as atitudes autodestrutivas são diferentes entre o indivíduo que se matou e os sobreviventes.
EU POSSO TER HERDADO ISSO?
Quero fazer uma provocação aqui, pois sei que muito se questiona a respeito dessa dúvida, inclusive entre familiares e pessoas próximas que ficam bastante receosas de que o ato se repita. Talvez você esteja se perguntando isso, com medo de passar pela mesma situação da pessoa que você perdeu.
Nenhum suicídio é hereditário. Precisamos compreender que os sintomas que desencadearam o ato e as atitudes autodestrutivas são diferentes entre o indivíduo que se matou e os sobreviventes. Então, não precisam ter o mesmo fim.
A OMS – Organização Mundial de Saúde – recomenda uma série de cuidados sobre a exposição do suicídio, justamente porque estas informações podem ser transmitidas de maneira equivocada e de maneira maléfica para a sociedade.
No jornalismo sério e ético há também uma questão moral envolvendo as notícias sobre o suicídio, para não serem divulgadas de qualquer maneira ou de forma sensacionalista.
Todos estes cuidados são tomados para evitar que uma pessoa com desequilíbrio emocional, transtornos psiquiátricos ou qualquer outra dinâmica semelhante, não tenha contato com estas notícias ou informações expostas de maneira desleixada, sem cuidado, permitindo que isso sirva de exemplo ou motivação.
Falar sobre o suicídio, seja como prevenção ou posvenção, é extremamente importante. Desde que seja feito por quem tem o conhecimento e transmitirá as questões sobre o assunto de maneira cuidadosa e benéfica.
Um dos maiores estudiosos sobre o suicídio no mundo, Edwin Schneidman, escreveu que “a morte de uma pessoa não é apenas um fim: é também um começo para os sobreviventes”.
Se pararmos para pensar nos diversos recomeços da vida, perceberemos que nem todos são por vontade própria ou no tempo que gostaríamos. E, infelizmente, a vida pode nos colocar à prova em situações extremamente difíceis e desafiadoras, que é o caso de quem sofre por alguém que partiu por meio do suicídio.
Precisamos compreender que não vamos encontrar as causas, pois além de serem muitas (motivos multifatoriais), elas se foram com a pessoa que nos deixou. Devemos focar os nossos esforços em ouvir a nossa dor, enfrentar o nosso luto e ressignificar a nossa vida.
Acredito que algumas maneiras simples de pensar fazem toda diferença. Ao invés de pensarmos: “não devo me sentir culpado”, que tal nos perguntarmos: “do que nos culpamos?”. Abrir a reflexão e não fechá-la, pode nos trazer pensamentos que ajudarão no processo do luto.
Falamos bastante no Centro de Valorização a Vida, mas você pode buscar ajuda também em grupos de apoio. Pesquise se não há algum na sua cidade, em alguma instituição próxima, ou mesmo alguém que possa indicar essa ajuda.
E, assim como digo a quem busca ajudar, dou um conselho a você sobrevivente: procure as pessoas em quem você confia para ter este espaço de compartilhar e dividir o peso que sente. Será de extrema valia para a sua vida, tenha certeza disso. Inclusive, aqui em Vivenciar.net temos uma equipe pronta a te ouvir e te apoiar. Entre em contato, estamos aqui te esperando.
E, por último, de maneira muito especial, ore, converse com Deus. O entendimento e a compreensão dele – que é humanamente impossível de se ter ou mensurar – estará com você, te acolhendo e ajudando a prosseguir. Jamais esqueça disso.
“Ele fica perto dos que estão desanimados e salva os que perderam a esperança. Salmo 34.18”.