Quando falamos de raiva, rapidamente lembramos de alguém que está em seu carro, no meio do trânsito, reclamando com outro motorista. Ou da mãe que grita com a criança que não a obedeceu. Também podemos lembrar dos torcedores fanáticos quando seu time está perdendo. Talvez, até você mesmo esteja com raiva agora, por causa de alguma coisa que fizeram a você.
Momentos de raiva estão nas notícias, nas ruas, no escritório e dentro de nossas casas. Mesmo que seja algo natural ao ser humano, deixa de ser aceitável quando causa dano a outros e a nós mesmos. É possível aprender a reconhecer a nossa raiva e assumir que precisamos fazer algo sobre isso, seja para o bem da nossa própria saúde ou para o bem dos que convivem conosco? Vamos falar um pouco sobre isso.
32%
Quase 1/3 das pessoas afirmam que têm um amigo ou familiar com problemas para controlar a raiva e a irritação.
1 em cada 5
Uma a cada cinco pessoas já terminaram um relacionamento ou amizade por causa da forma como a outra pessoa se comportava quando estava com raiva ou irritada.
64%
das pessoas concordam que, em geral, o ser humano está ficando cada vez mais irritado ou com raiva.
Segundo a Sociedade Americana de Psicologia, a raiva é um estado emocional que varia em sua intensidade. Pode ir desde uma irritação leve até o estado de fúria intensa. Como outras emoções, vem acompanhada de mudanças psicológicas e biológicas. A raiva, ou ira, é uma resposta natural quando sentimos que algo nos ameaça. Ela faz com que o corpo libere adrenalina, deixa os músculos tensos e eleva a frequência cardíaca e a pressão arterial. Os sentidos ficam mais aguçados, ao mesmo tempo em que o rosto e as mãos podem ficar avermelhados.
Todos sabemos o que é sentir raiva, pois já passamos por isso algumas vezes em nossa vida, tendo razão ou não, como resultado de um fator externo (no trânsito, quando alguém quase bate em nosso carro, por exemplo) ou por fatores internos (problemas sem resolver, preocupações, etc…). Levando isso em conta, percebemos que a raiva é muito mais do que uma simples emoção humana. Ela pode ser uma explosão que resulta de algo que está se passando em nosso interior.
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A raiva sem controle é a raiz de muitos problemas físicos, emocionais e sociais, incluindo doenças crônicas, depressão, relacionamentos infelizes, violência e atos criminosos.
Segundo a psiquiatra Stephanie Van Ulft, em seu livreto “Get a grip! Managing moods and emotions”, as emoções são fundamentais em nossa sobrevivência e adaptação, permitindo que nos entrosemos e possamos interagir com outras pessoas e com nosso ambiente cotidiano. Sem as emoções, as pessoas não poderiam expressar amor ou tristeza, nem estabeleceriam conceitos morais. As emoções são fundamentais em nossa vida, e tratando da raiva, por ser uma entre tantas emoções naturais, nem sempre estamos agindo errado quando ela se manifesta, pois nos ajuda a compartilhar o que está nos preocupando e nos motiva a reagir e atuar positivamente, como uma força que nos leva a buscar proteção e sobreviver.
Na realidade, a chave está em saber controlar a raiva, saber como lidar com ela. Se não a controlarmos, ela age em nós de forma destrutiva. A raiva sem controle é a raiz de muitos problemas físicos, emocionais e sociais, incluindo doenças crônicas, depressão, relacionamentos infelizes, violência e atos criminosos.
“Se vocês ficarem com raiva, não deixem que isso faça com que pequem e não fiquem o dia inteiro com raiva. Não deem ao Diabo oportunidade para tentar vocês.” Na primeira parte deste texto da Bíblia (Efésios 4) podemos encontrar consolo ao compreender e aceitar como natural essa emoção que faz parte do ser humano. Na segunda parte, no entanto, somos alertados sobre como devemos tomar cuidado com o controle da raiva.
Um artigo encontrado no portal Universia nos descreve como um grupo de cientistas da Universidade de Iowa realizou um estudo para captar o que acontece no cérebro quando a raiva se instala em nós. Foi pedido a um grupo de participantes para realizar uma tarefa, que logo seria duramente criticada sem nenhuma justificativa válida a fim de provocar raiva nos participantes e, dessa forma, capturar a atividade cerebral deles nesse momento.
Eles observaram que, ao desencadear a raiva, certas zonas do cérebro eram ativadas: o córtex cingulado anterior, que é encarregado das emoções e aprendizado, e regula a motivação e detecção de conflitos, e também o córtex pré-frontal dorsolateral, que de forma resumida, pode-se dizer que é o responsável por decisões racionais e que pode nos impedir de deixar as emoções tomarem o controle das situações. Neste estudo, vemos que os participantes expressaram raiva diante da frustração de uma expectativa não alcançada (a tarefa realizada foi duramente criticada), e como isso ativou áreas do cérebro que envolvem as emoções e a tomada de decisões. Por outro lado, há outras reações biológicas que também são resultantes da raiva, como o aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, aumento dos níveis de adrenalina (que prepara o corpo para enfrentar esses momentos) e liberação de noradrenalina (substância que atua como fonte de energia imediata). Nunca é demais alertar que raiva, ira ou agressividade resultante de estresse estão fortemente ligados a enfermidades cardiovasculares.
Em seu artigo “O cérebro e a raiva”, o Dr. Luis M. Labath afirma que, como as emoções estão muito ligadas aos pensamentos, então uma situação pode ser “vivida” de formas diferentes por pessoas diferentes. Uma primeira reação do cérebro nos prepara para enfrentar a situação rapidamente, lutando ou fugindo. Logo em seguida há outra reação que dura um pouco mais de tempo e avalia a situação como um todo, dando-nos uma noção melhor de como reagir de forma mais apropriada e na medida certa. Esta segunda reação pode durar horas ou dias. Quando isso acontece a pessoa pode se irritar por qualquer coisa.
Cada um dos novos pensamentos irritantes se converte em um detonador de uma nova descarga do cérebro, e a pessoa acaba se fechando para o pensamento lógico e racional, sem considerar as possíveis consequências de suas ações. A pessoa entra em um ciclo, alimentando uma sensação de poder que pode levar à agressividade. Nesse ponto ela está regredindo à mais primitiva das formas de reação.
Além disso, a raiva pode interferir de outras formas em nosso organismo:
Em contraste com esta lista, podemos encontrar o lado benéfico de tentar controlar a raiva:
Já vimos que a raiva sem controle pode ser a raiz de muitos problemas, prejudicando nossa saúde, causando doenças crônicas, depressão, relacionamentos infelizes, violência e atos criminosos. Isso se complica ainda mais por causa do nosso temperamento e da nossa constituição química. Outros fatores podem influenciar muito, levando uma pessoa a ter ataques de raiva:
Afinal, as coisas que fazemos como resultado de uma crise de raiva podem ser como um bumerangue: Lançamos contra os outros, descarregando toda a nossa frustração, mas em algum momento ele volta causando dano também a nós.
Em nosso mundo há muitos problemas que observamos facilmente ao nosso redor e que justificam, de certa forma, a nossa raiva: pessoas sem ter uma casa para morar, crianças passando fome, guerras, abusos físicos e verbais, injustiças e outras situações que vemos em qualquer noticiário. Mas, há casos em que a causa da raiva não é tão explícita assim. Quando algo abala a nossa segurança, nossa identidade ou nossa forma de ser e agir, ou quando algo parece sair da ordem natural com a qual estamos acostumados, por exemplo. Algumas dessas situações podem ser:
Há outras situações que também nos levam a perder o controle ou ficar irritados, como uma desilusão, cobranças constantes, ritmo acelerado de vida, inveja e ciúmes, mudanças na rotina, limitações físicas, dar atenção somente às críticas e comentários negativos, proximidade com pessoas negativas ou mal humoradas e outras situações como estas. Pense um pouco nos seus dias ou meses recentes. Você se irritou ou ficou com raiva por algumas destas razões?
Já vimos que é normal se irritar, ficar com raiva, e que todos estamos propensos a diversos fatores que nos levam a isso. Mas, se está acontecendo com muita frequência e com facilidade, podemos perder o controle e nos tornar propensos a ter explosões de raiva, reagindo com gritos e de forma violenta, insultando as pessoas, quebrando coisas e, até, agredindo aqueles que vivem mais próximos de nós.
Até onde vai a nossa capacidade de raciocinar quando a raiva aflora? Com que frequência eu deixo a raiva tomar conta de mim? Até onde posso ir, ou já estou indo, quando fico com raiva? Estas são perguntas que nos fazem pensar profundamente, especialmente quando nossos episódios de raiva podem estar causando prejuízos ou danos a alguém. Afinal, as coisas que fazemos como resultado de uma crise de raiva podem ser como um bumerangue: Lançamos contra os outros, descarregando toda a nossa frustração, mas em algum momento ele volta causando dano também a nós. Nossas palavras são ferramentas para construir ou para destruir, e estas palavras podem conter uma variedade de emoções:
Quando perdemos o controle da raiva, deixando que ela passe a dirigir nossas ações, corremos o perigo de partir para a violência, para a agressão física, atentando contra o bem-estar de outras pessoas, inclusive, da nossa própria família. Há inúmeros casos de violência familiar, onde a raiva descontrolada acaba com a vida de mães, filhos e pais.
Aprender a expressar a raiva de forma apropriada é um imenso desafio, que vai requerer que a pessoa reconheça, aprenda a entender e procure tratar da sua raiva. Essa é uma oportunidade para refletir sobre si mesmo e para aprender a resolver os conflitos. O objetivo de controlar a raiva é reduzir estes sentimentos intensos e suas reações fisiológicas. Se você acredita que não pode se afastar nem mudar as situações e pessoas que provocam a sua raiva, você precisa aprender a controlar estas reações.
Os especialistas em saúde mental medem a intensidade do sentimento de raiva, o quanto a pessoa está propensa a perder o controle e até onde ela pode controlar essa raiva. Se você chegou até aqui, é porque reconheceu que há um problema com o mau humor e a raiva, e é possível fazer algo para controlar isso, desde que haja empenho e vontade, e que você assuma a responsabilidade de suas ações sem colocar a culpa nos outros. Geralmente, cada um de nós pode encontrar formas diferentes de lidar com a raiva, e em outros casos podemos precisar de mais ajuda, inclusive de profissionais de saúde e terapia especializada. Veja abaixo algumas formas de lidar com o “mau humor” e a raiva:
Já que você chegou até aqui, que tal dedicar mais uns minutinhos para fazer o teste abaixo e ter uma ideia de como está o seu nível de irritabilidade? Quanta raiva você pode absorver no seu dia-a-dia? Se o seu “Quociente de Irritabilidade” for muito alto, quer dizer que você está reagindo de forma excessiva diante das situações que você enfrenta, e muitas delas podem se tornar um campo de batalha.
A “Escala Novaco”, criada pelo Ph.D e Professor de Psicologia Raymond W. Novaco, da Universidade de Indiana, apresenta 25 situações que podem surgir frequentemente em nossa vida. Para cada uma delas, responda de forma honesta qual seria o seu nível de irritação.
A “Escala Novaco”, criada pelo Ph.D e Professor de Psicologia Raymond W. Novaco, da Universidade de Indiana, apresenta 25 situações que podem surgir frequentemente em nossa vida. Para cada uma delas, responda de forma honesta qual seria o seu nível de irritação.
Todos estamos sujeitos a situações estressantes no trabalho, no casamento, na família, nos relacionamentos ou nos estudos. Além disso temos nossas expectativas que, muitas vezes, acabam sendo frustradas em relação aos amigos, ao governo, à vida em geral e a nós mesmos. Quando as coisas não andam como queremos, ficamos com raiva e podemos ser como um vulcão que estava adormecido, e de repente explode, causando danos graves às pessoas que convivem conosco.
Se você leu todo o nosso conteúdo e acha que precisa de ajuda, não se preocupe. É importante buscar um profissional de saúde, que irá ajudar você a processar melhor as situações que tiram você do sério. Somos criaturas complexas, criadas à imagem de Deus. Mas logo depois da criação o ser humano desobedeceu à Deus e caiu em pecado. Como resultado, as injustiças e o sofrimento passaram a fazer parte da nossa vida. Mas Deus pode nos ajudar a reconhecermos que somos falhos e pecadores, e precisamos de outros seres humanos para conviver em harmonia e em comunidade. Quando perdemos essa estabilidade, essa harmonia, podemos recorrer a Deus para que ele nos ajude a encontrar as forças e a ajuda necessária para mudarmos a nossa forma de enfrentar as situações irritantes do dia-a-dia. Reconhecer que precisa de ajuda é o seu primeiro passo, e você já começou a trilhar esse caminho.
“Lembrem disto, meus queridos irmãos: cada um esteja pronto para ouvir, mas demore para falar e ficar com raiva. Porque a raiva humana não produz o que Deus aprova.”.